Entende-se por clima o conjunto das variações sofridas pelo tempo ao longo de um ano. Como os anos não são iguais em termos meteorológicos, para caracterizar o clima de uma cidade ou região é preciso medir essas variações durante um período de pelo menos 30 anos consecutivos.
Clima é diferente de tempo. O tempo são as variações meteorológicas atuais ou a serem previstas pelos meteorologistas, num prazo máximo de 15 dias.
As características de um clima que devem ser medidas durante 30 anos são chamadas de elementos meteorológicos, e é sobre estes elementos que falaremos a seguir.
Para tornar mais concretos os conceitos a serem apresentados, tomaremos como exemplo o clima de Lagoa Vermelha, cidade localizada no nordeste do Rio Grande do Sul. Ela situa-se a 801 metros acima do nível do mar, no topo do Planalto Sul-Rio-Grandense.
1. Precipitação pluviométrica
A precipitação pluviométrica é o volume de chuva que cai em um determinado local. Ele é medido através de um aparelho chamado pluviômetro, que consiste em um funil por onde a água da chuva entra, indo se acumular num reservatório localizado logo abaixo. Um milímetro de água de chuva acumulada no pluviômetro equivale a 1 litro de água em 1 metro quadrado. Periodicamente, o observador vem e, com uma pipeta graduada, mede o volume de água acumulada desde a última observação.
O pluviógrafo é outro aparelho, que faz isso com mais precisão, registrando num gráfico as alturas das precipitações em relação ao tempo, gerando assim um gráfico chamado pluviograma.
O gráfico abaixo mostra a distribuição média das chuvas em Lagoa Vermelha. Vê-se claramente que chove bem mais do final do inverno (agosto) ao início do outono, embora com uma sensível redução em novembro.
Os meteorologistas costumam observar qual o trimestre mais chuvoso e qual o mais seco. Neste caso, vê-se que o mais chuvoso é agosto-setembro-outubro e o mais seco, abril-maio-junho. Também é importante observar a precipitação pluviométrica total do ano, que na cidade analisada é de 1.658,9 mm em média. Para efeito de comparação, em Belém (PA) a precipitação anual é de 2.889 mm.
Precipitação pluviométrica
2. Dias de chuva
Além da precipitação pluviométrica mensal e anual, é importante saber o número de dias do ano em que chove. Como se vê no gráfico abaixo, na cidade analisada a média mensal varia entre 9 e 13, com uma média anual de 11,2 dias.
A variação do número de dias com chuva acompanha, como era de se esperar, a variação da precipitação pluviométrica, sendo as curvas dos dois gráficos semelhantes.
Dias de chuva
3. Temperatura
A temperatura certamente é um dos elementos meteorológicos mais importantes e os climatologistas costumam trabalhar com três valores: a temperatura máxima, a mínima e a média compensada.
a) Média das Máximas
Os termômetros existentes nos abrigos meteorológicos registram automaticamente as temperaturas máxima e mínima, que são anotadas pelo observador diariamente. O gráfico abaixo mostra uma variação uniforme das máximas mensais, com um valor máximo em janeiro, decrescendo uniformemente até chegar a um valor médio mensal mínimo em junho, e a partir daí aumentando gradativamente até dezembro. Essa regularidade mostra estações do ano bem marcadas, o que é típico da região Sul do Brasil.
Média das máximas
b) Média das Mínimas
As médias mensais das temperaturas mínimas de Lagoa Vermelha dão um gráfico muito semelhante ao gráfico das médias das máximas, abaixo. Isso pode parecer muito natural, mas nem sempre é assim. Em Belo Horizonte (MG), por exemplo, as máximas mais baixas ocorrem em junho, mas em novembro elas são mais baixas que em outubro.
Média das mínimas
c) Médias das Médias Compensadas
Nas estações meteorológicas são feitas leituras das temperaturas de seis em seis horas, às 9h, 15h e 21h, por exemplo. Para um perfeito controle, dever-se-ia fazer uma quarta leitura, às 3h da madrugada, o que não costuma ocorrer, por se tratar de horário de descanso do observador. Assim, a temperatura média que se calcula não é exatamente a média do dia, pois falta o valor das 3h. O que os meteorologistas fazem então é calcular uma média das três leituras, mais a máxima e a mínima. A média desses cinco valores é chamada de temperatura média compensada. O gráfico abaixo, médias mensais das médias compensadas, é muito semelhante ao gráfico das médias das máximas e ao das médias das mínimas, confirmando as estações do ano bem marcadas.
Média das médias compensadas
4. Evaporação
A água superficial, por ação do calor do sol, passa para o estado de vapor. Quanto mais calor houver, maior será a evaporação; portanto, ela será maior no verão do que no inverno. Mas a taxa de evaporação depende também da umidade relativa do ar, pois se ela for elevada fica difícil a entrada de mais umidade, ou seja, de mais vapor de água. Pode-se medir a evaporação em um determinado local de duas maneiras.
Evaporação
Uma é com o instrumento chamado evaporímetro Piché. Ele consiste em um tubo graduado, fechado embaixo com papel-filtro, que fica dentro do abrigo meteorológico. A outra maneira é com o tanque de evaporação Classe A, um cilindro que fica a 30 cm do solo e no qual se mede a variação do nível da água, avaliando assim a perda por evaporação.
O gráfico acima mostra uma evaporação máxima em dezembro (112,4 mm), diminuindo daí em diante até fevereiro (77,4 mm), uma leve elevação em março (89,5 mm) e nova queda até junho (quando chega a apenas 57,0 mm). A partir daí, a evaporação sobe constantemente, até dezembro.
5. Insolação
Chama-se de insolação, em Meteorologia, o número de horas em que a luz do sol chega até a superfície da Terra sem interferência de nuvens. Ela é medida através de uma semiesfera de quartzo que fica exposta ao sol sobre um papel fotossensível.
O gráfico abaixo mostra que a insolação em Lagoa Vermelha é máxima em janeiro (227 horas) e mínima em junho (151 horas). Isso pode parecer normal, já que junho é inverno e janeiro, verão. Mas em Belo Horizonte ocorre praticamente o contrário: a insolação é máxima em julho (259,79 horas) e mínima em dezembro (142,7 horas).
A insolação anual atinge 2.212 horas em Lagoa Vermelha, menos do que em Fortaleza (2.695), Brasília (2.598), Recife (2.465), Porto Alegre (2.257) e Salvador (2.226), mas mais do que no Rio de Janeiro (1.927) e em São Paulo (1.826).
Como era de se esperar, o gráfico da insolação assemelha-se ao da evaporação, pois é o calor do sol que faz a água evaporar.
Insolação
6. Nebulosidade
Nebulosidade é um elemento meteorológico que traduz a fração da abóbada celeste que é ocupada por nuvens. Segundo as normas meteorológicas atuais, o céu é dividido em octas (ou décimas, dependendo da região) e, a partir do número de octas com cobertura total de nuvens, a nebulosidade é dividida em:
a) céu limpo ou ensolarado: nenhum vestígio de nuvens (nenhuma octa encoberta);
b) céu quase limpo: pelo menos uma octa está encoberta;
c) céu pouco nublado: pelo menos duas octas encobertas;
d) céu parcialmente nublado: pelo menos quatro octas (aproximadamente metade do céu) encobertas pelas nuvens;
e) céu quase nublado: no mínimo seis octas encobertas;
d) céu nublado: as oito octas estão totalmente encobertas pelas nuvens.
O gráfico abaixo foi feito de modo diferente. A nebulosidade foi avaliada três vezes por dia, usando uma escala que varia de 0 a 10. Ele mostra que em Lagoa Vermelha a nebulosidade é máxima em agosto. O fato de o céu ser mais limpo em meses frios, como maio a julho, do que no verão explica-se por haver menos evaporação quando faz frio, com consequente menor formação de nuvens.
Nebulosidade
7. Umidade relativa do ar
A umidade relativa do ar mede a porcentagem de vapor d’água que há no ar. Quando ele está saturado de água, a umidade é de 100%.
Umidade relativa do ar
8. Pressão atmosférica
É a pressão exercida pelo peso da atmosfera num determinado ponto da superfície da Terra. É medida pelo barômetro e traduzida em milibares, atmosferas, hectopascais, milímetros de mercúrio ou quilopascais. Dessas unidades, as mais usadas pelos meteorologistas são as três primeiras, sendo as três últimas as mais empregadas no meio científico.
A pressão atmosférica é importante quando medida em uma área ampla, muito maior que os limites de um município, já que localmente a média mensal praticamente não varia. Ou então quando medida em um mesmo local, mas várias vezes por dia, pois existe uma variação ao longo do dia, por influência do calor do sol. Portanto, médias mensais obtidas a partir de uma única estação meteorológica têm pouco significado.
É importante lembrar também que a pressão atmosférica ao nível do mar é de 1.013 hectopascais e que quanto maior a altitude menor é a pressão. A cada 8 m de altitude, ela diminui em média 1 hectopascal. Desse modo, em Lagoa Vermelha, que fica cerca de 800 m acima do nível do mar, a pressão atmosférica deve oscilar em torno de 900 hectopascais. E é isso que mostra, de fato, o gráfico abaixo.
Pressão atmosférica
Fontes :
BRANCO, Pércio de Moraes Branco. O Clima de Lagoa Vermelha. In: Lagoa Vermelha e municípios vizinhos. Porto Alegre: EST, 1993. 306p. il. p. 27-42.
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