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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A COMUNICAÇÃO ATRAVÉS DA ARTE: Construção da Maquete da Serra do Espinhaço Meridional como recurso interdisciplinar e didático

Trabalho apresentado no 




Arnett Alexander Paiva Gonçalves , Cecília Serra Macedo, Marcos Vinícius Pacheco Pereira , Natália Pereira Fonseca


Alunos BHu/BCT da UFVJM participantes do Projeto GAIA orientados pela Profa. Danielle Piuzana

Introdução 

Um dos tipos de representação do espaço geográfico pode ser por meio de maquete geográfica, que é uma representação cartográfica tridimensional do espaço, pois representa as categorias longitude, latitude e altitude. Essa representação adquire importância fundamental quando se pensa em aplicações empregadas em projetos interdisciplinares voltados às questões ambientais ou simulações. Portanto, o objetivo de uma maquete geográfica, não é só o de produção e reprodução, mas também um meio de transmissão de informações, que vai desde a sua construção até a divulgação do relevo do espaço, servindo como instrumento didático de ensino. A cartografia pode ser tanto arte como ciência. A arte na cartografia inclui o esquema de desenho e o desenho técnico de cada linha e cada ponto que, em conjunto, formarão a mensagem para o leitor. É arte quando se subordina às leis estéticas da simplicidade, clareza e harmonia, procurando atingir o ideal artístico da beleza. A cartografia como ciência tem como uma das finalidades a busca de instrumentos e técnicas essenciais para que a realidade representada fique bem mais exata. (ANDERSON et al., 1982 apud OLIVEIRA JUNIOR et al. 2008). Ainda segundo os autores, a comunicação é um dos maiores objetivos da cartografia; o outro é a análise topográfica do espaço, uma forma de comunicação especializada que dá ênfase ao visual, por isso a cartografia deve conhecer seu lugar no contexto da doutrina da comunicação. 

Este trabalho é oriundo do projeto GAIA (Geociências, Arte, Interdisciplinaridade e Aprendizagem) no núcleo de estudo sobre a Serra do Espinhaço Meridional, que, através de pesquisas bibliográficas e trabalhos de campo, permitiu a confecção de uma maquete de toda a sua área, com representação de cidades, signos e sinais marcantes deste importante espaço geográfico do estado de Minas Gerais. Esse tipo de produção foi escolhido como meio de comunicação, devido ao fato de representar um recurso de forte potencial didático para a análise integrada da paisagem e compreensão do espaço geográfico. 



Metodologia 

Caracterização da área de estudo 

A Serra do Espinhaço Meridional, localizada no estado de Minas Gerais, representa um importante acidente geográfico de direção geral N-S e largura variável de até 100km, que se estende desde as proximidades de Belo Horizonte até a depressão de Couto de Magalhães de Minas, que também é o limite entre a parte da Serra Meridional e Setentrional, a qual se estende até a Bahia (FOGAÇA, 1995). Seu relevo é marcadamente acidentado com altitude geralmente superior a 1.000m, alcançando um máximo de 2.060 m no Pico do Itambé (CHAVES, ANDRADE e BENITEZ, 2012) localizado a cerca de 30 km a sudeste de Diamantina. 

Do ponto de vista biogeográfico, a Serra do Espinhaço representa uma faixa de transição e divisor de três importantes biomas: Cerrado, Mata Atlântica e Caatinga, conhecido como ecótono. Coberturas vegetais na região são representadas por campos rupestres e campos de altitude, cerrado e floresta sub- caducifólia principal. A ocorrência de um determinado tipo está fortemente condicionada a condições climáticas e aspectos morfológicos. Para Gontijo (2008) sua ecogeografia exige a necessária consideração como um bioma em si – sua antiguidade geológica e sua posição geográfica confere-lhes um aumento na sua relevância ecológica, pois estão na base para tentarmos explicar o grau tão elevado de biodiversidade que comporta. Além disso, a serra é um importante divisor de bacias hidrográficas: rio São Francisco, a oeste, e dos rios que fluem para leste e deságuam no Oceano Atlântico, tendo como bacias hidrográficas principais as dos rios Jequitinhonha e Doce. 

Confecção da maquete do Espinhaço Meridional 

Para confecção da maquete do Espinhaço Meridional foram utilizados os mapas dos trabalhos científicos de Dossin, Dossin e Chaves (1990) com representação dos grandes compartimentos geotectônicos da região e mapas hipsométricos da Serra do Espinhaço e suas margens de Saadi (1995); Augustin, Fonseca e Rocha (2011). 

A plataforma é a 1ª etapa da construção da maquete. Nessa etapa foi utilizada uma tábua de 1,70m por 1,00m na qual foram adicionadas quatro ripas (duas de 1,70m e duas de 1,00m) para firmeza da mesma. Na 2ª etapa da construção desenhou-se a forma da maquete, segundo os mapas encontrados na literatura descrita acima e que se encontram em tamanho A4 que foram quadriculados com 1cm2. Posteriormente foi utilizado papel vegetal de 1,70m por 1,00m que foi quadriculado em quadrados de 49cm², colado em seguida na tábua de base da maquete. A 3ª etapa consistiu na produção do papel marchê, feito com papel reciclado. O papel foi picado, encharcado com água e mantido de molho por 24 horas. Em seguida é granulado com uso de peneira e colocado em sacos de pano para ser torcido e retirar o excesso de água. Neste momento passa-se a preparação do selante artesanal feito com polvilho, conhecido popularmente por “grude”. Para preparar o “grude” devem-se ferver dois copos de água, dissolver quatro colheres de polvilho em um copo de água fria, e em seguida misturar a água fervida com a solução de polvilho. A partir daí, o “grude” estará pronto para ser misturado ao papel granulado já seco. Deve-se então deixar a massa de papel marchê ao ponto de modelar. Após esta etapa utilizou-se palitos de 20 cm afixados verticalmente na base da maquete já com papel marche, para medição das altitudes segundo os mapas hipsométricos, que foram graduados de forma que cada 1 cm no palito representasse 100m de altitude real. Assim, o relevo da região da Serra do Espinhaço e arredores foi modelado. Esse processo levou cerca de 50 a 60 dias, necessários para estabelecer certa resistência à maquete, à medida que ia secando. 




Depois da finalização do relevo passou-se a 4ª etapa, o acabamento, que se resumiu na pintura e na caracterização da Serra. Primeiro, cobriu-se toda a maquete com camadas de cola branca para impermeabilização e maior resistência. Para a pintura foram utilizadas tinta verde escuro para representar a Mata Atlântica, tinta verde musgo para representar o cerrado; com espuma e palitos de dente confeccionou-se pequenas árvores (dois modelos: de espuma redonda representando as árvores da Mata Atlântica e em forma de cone para representar plantações de Eucalipto). Tinta azul foi utilizada para os rios que tiveram seus leitos sulcados; Utilizaram-se, ainda, serragens obtidas em marcenarias como descarte, tingidas de duas cores diferentes, marrom claro e escuro para ornamentar o cerrado e verde-bandeira para a Mata Atlântica. Na parte superior da Serra foram colados fragmentos de quartzo e algumas sempre-vivas para representar as camadas predominantes de rochas quartzíticas que ressaltam no relevo e seus campos rupestres e de altitude respectivamente. Confeccionaram-se ainda algumas pequenas hélices de E.V.A. para representar a estação eólica experimental da CEMIG, que se localiza na região do Camelinho, importante signo que pode ser visto da Rodovia BR-367 entre Vila Alexandre Mascarenhas e a cidade de Gouveia.






No Quadrilátero Ferrífero, localizado a sul da Serra do Espinhaço, foi utilizada cola prateada e tinta marrom, que representam tipos de rochas predominantemente ferruginosas oriundas de minerais que são extraídos daquela região. Musgos secos foram afixados com cola quente para representar as matas ciliares das principais nascentes, rios e ribeirões. Para melhor localização espacial ao longo de toda a maquete utilizou-se placas com pedaços de madeira de 3 por 3 cm afixadas em palitos e numerados – estes representam as cidades, marcos geográficos e demais signos de identificação. 

 Fotografia da Serra do Espinhaço Meridional (dimensão 1,70m de comprimento por 1,00m de largura), com Norte no canto superior direito da maquete e borda leste com melhor visualização, no qual se destacam, em azul, importantes drenagens que vertem para as bacias do Leste. Foto: Cecília Serra Macedo. 






Resultado e discussões 

A construção de maquetes em áreas como a Geografia é considerada uma fonte extremamente diversicada de proposta de ensino e aprendizagem para os estudantes, são meios didáticos de leituras e construção dos elementos geograficos, além de contribuir para melhor vizualização do espaço, visando atingir as diferentes necessidades pedagógicas, como no caso dos alunos de Diamantina e região. O projeto GAIA iniciou uma intensa pesquisa metodológica a fim de reunir uma grande quantidade de referências que nos proporcionaria uma maior exatidão na elaboraçao dessa maquete específica que representasse a Serra do Espinhaço proporcionando interdiciplinariedade entre arte, geografia e ciências de modo a interagir escola e projeto. 

Os professores, em sala de aula, introduzem sobre a formação e estruturação geológica da Terra em geral, e em seguida dirigem-se com os alunos ao local onde está instalado o projeto GAIA; nesse espaço obtem-se informações focadas na região do Espinhaço, o estudante pode ter um contato direto com a maquete e assim observa em prática a exposição feita em sala pelo professor. A dinâmica dessa atividade proporciona maior fixação e compreensão sobre o assunto retratado, e percebe-se um grande interesse da parte dos alunos, na forma em que a maquete fora construída, os materiais utlizados, as escalas utilizadas e, na prática, a localizaçao das cidades que se estabelecem na Serra e suas distancias (levando ao conhecimento da vizualização de escalas), composição do solo e rochas, proporciona também a compreensao de legendas, visualizaçao de altitudes, latitudes e longitudes, além de conhecimentos sobre a fauna, flora e hidrografia (a Serra do Espinhaço, considerada divisora de bacias hidrograficas) da região. 

É visivel que a percepção tridimensional em forma de maquete de qualquer área do espaço intensifica a perspectiva de qualquer pessoa em relação a realidade. 

Considerações finais 

A maquete grografica é um recurso didático que adquire importância fundamental quando se pensa em aplicações empregadas em projetos interdiciplinares para representar o espaço. A comunicaçao entre aluno, professor e integrante do projeto aumenta a cada visita recebida, e o interesse pela visitaçao por parte das escolas tende a crescer. A construção dessa maquete trouxe inúmeros pontos positivos para ambas as partes, como a possibilidade de promoção e difusão do conhecimento adquirido pelos integrantes da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.






Apoio: Casa da Glória/ IGC/ UFMG e FAPEMIG. 

Referências 


Augustin C.H.R.R. et al. Mapeamento geomorfológico da Serra do Espinhaço Meridional: primeira aproximação. Geonomos, 19(2), 50-69, 2011. 

Chaves, M.L.S.C.; Andrade, K.W.; Benitez, L. 2012. Pico do Itambé, Serra do Espinhaço, MG - Imponente relevo residual na superfície de erosão Gondwana. In: Winge,M.; Schobbenhaus,C.; Souza,C.R.G.; Fernandes,A.C.S.; Berbert-Born,M.; Sallun filho,W.; Queiroz,E.T.; (Edit.) Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil. Publicado na Internet em 21/08/2012 no endereço http://sigep.cprm.gov.br/sitio057/sitio057.pdf 

Dossin, I.A.; Dossin, T.M.; Chaves, M.L.S.C. Compartimentação litoestratigráfica do Supergrupo Espinhaço em Minas Gerais: Os grupos Diamantina e Conselheiro Mata. Revista Brasileira de Geociências, 20:178-186. 1990. 

FOGAÇA, A.C.C. Geologia da Folha Diamantina. Projeto Espinhaço, COMIG/UFMG, 98 pp., Belo Horizonte. 1995. 

GONTIJO, B. M. Uma geografia para a Cadeia do Espinhaço. Megadiversidade 4: 7–15. 2008. 

SAADI, A. A Geomorfologia da Serra do Espinhaço em Minas Gerais e de suas Margens. Belo Horizonte, Geonomos 3(1): 41-63, 1995. 

OLIVEIRA JUNIOR, M.F et al. A cartografia como veículo de comunicação da Geografia. In X Encontro de Iniciação à docência, UFPB, João Pessoa, 2008. 

ALMEIDA, S.P; Zacharias, A.A.A leitura da nova proposta do relevo brasileiro através da construção de maquete: O aluno do ensino fundamental e suas dificuldades. Estudos Geográficos, Rio Claro, 2(1): 53 -73, Junho – 2004.

3 comentários:

  1. Respostas
    1. Oi Fernando,

      em nome da equipe agradeço. Nossa meta agora é tentar fazer uma maquete de 6 metros de comprimento!

      Abraços, dani

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  2. PARABÉNS PELO TRABALHO! A CONSTRUÇÃO DE MAQUETE PODE SER UM RECURSO PEDAGÓGICO EXTREMAMENTE IMPORTANTE, SOBRETUDO PARA CRIANÇAS ENTRE 6 E 12 ANOS CUJO PENSAMENTO OPERADO SOBRE BASES CONCRETAS.

    ABRAÇO,

    PAULO AFRâNIO

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