A erosão é um fenômeno no qual as partículas do solo são desagregadas por agentes externos, como chuvas, ventos, águas do rio ou pela ação do homem. Segundo o Portal da Educação, o Brasil perde anualmente aproximadamente 1 bilhão de toneladas de solos por conta da erosão.
Convidamos o Antonio Guerra, coordenador do Laboratório de Geomorfologia Ambiental e Degradação dos Solos (Lagesolos) da UFRJ, para aprofundar este tema. Confira a entrevista abaixo e descubra como este processo afeta o ambiente!
Comunitexto: A erosão é um processo natural e o senhor menciona em seu livro que trouxe benefícios para o Rio Nilo. No Brasil existem casos semelhantes?
Antonio Guerra: Sim, a erosão é um processo natural e existem benefícios para o Rio Nilo, porque os sedimentos orgânicos e inorgânicos que se depositam todos os anos dão maior fertilidade às suas planícies. No caso brasileiro isso ocorre em diversos rios, sendo o mais conhecido deles o Rio São Francisco, em especial no trecho entre as cidades de Juazeiro (Bahia) e Petrolina (Pernambuco), separadas pelo Rio São Francisco. Essa área de agricultura irrigada é bem conhecida pelo plantio de uva, manga, côco, goiaba e frutas de um modo geral. Alem dos processos naturais que dão origem à erosão, existe também a ação do homem que acelera esses processos e dão origem a uma série de problemas, como veremos mais adiante nessa entrevista.
CT: Como se pode caracterizar uma erosão descontrolada? Existe uma medida para definir?
AG: Essa forma de erosão, que é muito estuda pelos especialistas, é também chamada de erosão acelerada, onde o homem tem um papel importante porque, de acordo com o uso e manejo dos solos, podem causar essas formas erosivas, que são mais conhecidas por ravinas e voçorocas, feições lineares, que retiram toneladas de sedimentos dos solos e acabam levando esses sedimentos para rios, reservatórios e lagos.
CT: Existem inúmeros fatores que causam estas erosões, principalmente provocados pela ação do homem. No Brasil, qual o senhor considera mais grave?
AG: Os fatores que causam erosão podem ser divididos em dois grandes grupos: de ordem natural, como os tipos de solos, a intensidade e quantidade de chuvas, as características das encostas e a cobertura vegetal. De um modo geral, mesmo acontecendo erosão em terras não cultivadas, ela geralmente não é tão intensa, quanto nas áreas com agricultura e pecuária, onde o uso inadequado do solo, sem práticas conservacionistas, causa quase sempre ravinas e voçorocas, alem do que chamamos de erosão laminar, que pode retirar muitas toneladas de solo por hectar, comprometendo a fertilidade natural dos solos, tornando pobres e quase estéreis, se nada for feito para reverter esse quadro.
CT: Quais são os danos mais imediatos e outros que surgem em longo prazo por uma ação erosiva não natural?
AG: Os danos imediatos são a própria perda do solo, limitando o espaço físico para cultivar e criar animais, em especial onde foram formadas grandes voçorocas. A médio e longo prazo a perda de fertilidade natural praticamente inviabiliza a agricultura, a menos que sejam repostos os nutrientes perdidos, através de adubação química e orgânica. A erosão é uma forma de degradação dos solos, que causa danos, não só nas áreas atingidas diretamente por esses processos geomorfológicos, mas também em áreas situadas fora das áreas atingidas, porque os sedimentos retirados das feições erosivas acabam assoreando rios, lagos, baias e reservatórios, através do transporte e deposição de sedimentos.
CT: Em sua obra, o senhor menciona que voçorocas acabam se tornando pontos turísticos. Onde isso ocorre? O senhor pode contar mais sobre isso?
AG: No caso dos pontos turísticos, as voçorocas se tornam como tais, de forma indevida, porque a população, por exemplo, no litoral do Ceará e em outros pontos do litoral brasileiro, onde as voçorocas ocorrem muito próximas do mar, as pessoas acabam usando o topo das voçorocas como atração turística, bem como a base das mesmas. Só que pequenos deslizamentos que ocorrem nas bordas das voçorocas, podem causar danos a esses locais usados inadvertidamente como ponto turístico.
CT: Uma área muito degradada, com uma voçoroca, por exemplo, pode ser completamente recuperada? Em quais casos é possível a recuperação? E em quais não é?
AG: A recuperação das voçorocas é, na maioria das vezes, possível, sendo que existem diversas técnicas para que isso aconteça. Uma delas é a utilização de biotexteis, colocadas nas paredes das voçorocas, bem como no fundo das mesmas, em conjunto com matéria orgânica e sementes para o desenvolvimento de plantas que irão recuperar, gradativamente, esses ambientes degradados. A recuperação é possível praticamente em todos os casos, onde houver interesse e disponibilidade financeira e técnica para tal. Em locais onde as voçorocas atinjam grandes profundidades, geralmente mais de 15 ou 20 metros e o custo para sua recuperação seja muito elevado. não que seja impossível a recuperação, mas ela é deixada em segundo plano por esses motivos, em especial se forem em áreas muito remotas, sem grande interesse econômico, ou onde a relação custo-benefício não seja vantajosa.
CT: Existem leis que garantam a preservação de ambientes para que isso não ocorra? Se sim, são eficazes?
AG: As leis existem. Em especial nos locais que são Áreas de Preservação Permanentes, também conhecidas por APP, que correspondem aos topos de morros, encostas com declividade superior a 45 graus e margens de rios. Como muitas vezes essa legislação não é cumprida, então o surgimento de erosão acelerada nessas áreas, é só uma questão de tempo. O respeito à legislação garante a proteção dessas áreas, sendo bem mais difícil ocorrerem processos de erosão acelerada. Mas mesmo onde a legislação não proteja os ambientes, ela pode ocorrer devido à combinação de fatores de ordem natural e do uso e manejo do solo, como dito anteriormente, nessa entrevista.
Fonte: http://www.comunitexto.com.br/entrevista-antonio-guerra-fala-sobre-erosao/#.UZubNDl7RYc
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